Questões de escrita. Loucura e racionalidade: vícios preguiçosos
Sempre fui mais escritor que leitor. Depositar a confiança no papel, amigo invisível que não se queixa de ter de me aturar. Abraçar a liberdade de criar um universo paralelo, uma dimensão à minha medida, um futuro alheio aos outros e uma verdade que não tem de o ser. Embora a caneta seja fundamental é no papel que reside a ponte entre a ideia mental e a ideia material. Com um papel podemos fazer tudo, podemos ser quem quisermos, podemos inventar as mais complexas ou simples situações e confrontá-las na nossa própria realidade. A loucura simplesmente mental de nada vale, pelo contrário, é dizimada pela sociedade excessivamente racionalista e homogeneizadora; pelo contrário a loucura exposta em papel pode significar arte, isto na pintura, na literatura, e em muitas outras uras que não são consideras cultas. Mas o que seria de um escritor que não lesse (e existem)? Resumiria as suas palavras à realidade que lhe está próxima? Limitar-se-ia às experiências próprias e ao “já ouvi contar”? Perderia o mérito de ser um artista apenas por não possuir uma base cultural socialmente aceitável?
Vi há pouco a apresentação de um talk-show norte-americano em que o apresentador se distinguia pela loucura. Ele é bom no que faz por ser louco? Por aparentar uma doença socialmente condenável, mas simultaneamente reproduzida em larga escala? Ou será apenas uma máscara que usa e retira como profissional, como um actor num teatro? E os telespectadores, aos milhões por esse mundo, que absorvem aquelas doses de ignorância em jeito de entretenimento que convida à preguiça? Loucura e preguiça….
Para que serve a loucura? Para testar os limites da racionalidade humana? Entro em dissonância comigo próprio quando me afirmo com certa dose de loucura e simultaneamente afirmo-o racional e conscientemente. A preguiça de ser mais normal abafa-me como se estivesse em areias movediças, olhando para os camelos ao lado que evitaram a curiosidade de experimentar este caminho, e insulto-os: camelos! Camelos normais…enquanto me arrastam lentamente neste buraco lento que me adorna o espírito de sacrifício insano…Era só um sonho! Estava sentado a pensar em camelos quando reparei que muito pouco os separa das areias movediças…será que quando as vir enterrar-me-ei como um não-camelo?
Acrescentar adjectivos e advérbios adorna-me o discurso. Manhas para transformar uma simples frase num enorme texto em que uma única imagem desvalorizaria milhões dessas palavras, e em que o superficial seria realmente desfocado (advérbio que não se coíbe de apontar a verdadeira realidade?)
Comentar o adjectivo é atribuir-lhe graus de importância, é descrever mais concretamente determinado substantivo, revalorizá-lo e de certa maneira focar determinada característica em detrimento de outras. Desta maneira muitos escritores formam um estilo, em que para exibirem uma só ideia utilizam várias expressões e caracterizações. Tal como com as metáforas e analogias, de uma determinada observação se constroem realidades paralelas na mesma escala para descrever esse fenómeno. Ao fim ao cabo, complicar o que simples não é tão evidente ou no caso da prosa, não é tão belo.
Um estilo particularmente característico da escrita insana é a que mistura substantivos com adjectivos que no mundo real e racional não têm qualquer correlação. O significado remete-se então para o simbolismo das duas partes que assim integradas transmitem uma terceira ideia alternativa, que não tem necessariamente que ver com as duas primeiras.
Ao atribuir significado a algo que no mundo real não o tem ou é despropositado, coloco-me no patamar dos que alteram a realidade para construir o meu próprio mundo. Isto, no papel, sem qualquer importância sem ser a estética para mim e para quem a partilhar. Mas uma poderosa arma de propaganda, inventada talvez por Goebbels, Ministro da Propaganda da Alemanha Nazi, e reproduzida posteriormente pelas potências vencedoras da II Guerra, e que invade os neurónios dos muito mais expostos cidadãos do mundo da era da comunicação de massas.
A verdade e a procura pela verdade pode ser feita de forma “mentirosa”. Pode ser vendida pelo mercado do espectáculo, pode ser difundida no mundo dos media, posso ser investigada nas pilhas de papéis que transbordam os arquivos e bibliotecas, pode ser teorizada em livros e teses nas universidades, pode ser observada por cidadãos independentes ou como alguém lhe chamaria, sociedade civil…mas uma verdade absoluta, única, aceite por todos nem o mais totalitário dos regimes políticos, nem o mais severo dos deuses consegue impor na consciência humana.
A loucura pode ser identificada com os seus autores, consegue funcionar como álibi nos tribunais, pode igualmente ser difundida pelo mundo do espectáculo, pode ser teorizada com manifestos dementes que podem ter tanta adesão quanto o valor simbólico que representam, e é difundida a milhares de km/hora na sociedade da informação…
Estas conclusões de tão evidentes que são até podem ser apelidadas de loucas, ou pelo contrário, se fugirem à racionalidade vigente têm o mesmo destino. Ao fim ao cabo, a loucura é normal, talvez não seja saudável mas também já está evidente que a racionalidade nem sempre traz consequências sãs.
Debitar ideias mortas à nascença, abortos de sinceridade afogada pela pressão da genialidade, numera-me entre os algarismos que nascem, ficam doidos e reconhecem-no antes que alguém lhes aponte o caminho do hospital, onde a verdade é reconstituída e o prazer de distinguir a imensidão das cópias plagiadas na essência da realidade e a fuga ao sentido natural num espectáculo parado de alteração mental (que) conduz à insanidade preguiçosamente (d)escrita.
Vi há pouco a apresentação de um talk-show norte-americano em que o apresentador se distinguia pela loucura. Ele é bom no que faz por ser louco? Por aparentar uma doença socialmente condenável, mas simultaneamente reproduzida em larga escala? Ou será apenas uma máscara que usa e retira como profissional, como um actor num teatro? E os telespectadores, aos milhões por esse mundo, que absorvem aquelas doses de ignorância em jeito de entretenimento que convida à preguiça? Loucura e preguiça….
Para que serve a loucura? Para testar os limites da racionalidade humana? Entro em dissonância comigo próprio quando me afirmo com certa dose de loucura e simultaneamente afirmo-o racional e conscientemente. A preguiça de ser mais normal abafa-me como se estivesse em areias movediças, olhando para os camelos ao lado que evitaram a curiosidade de experimentar este caminho, e insulto-os: camelos! Camelos normais…enquanto me arrastam lentamente neste buraco lento que me adorna o espírito de sacrifício insano…Era só um sonho! Estava sentado a pensar em camelos quando reparei que muito pouco os separa das areias movediças…será que quando as vir enterrar-me-ei como um não-camelo?
Acrescentar adjectivos e advérbios adorna-me o discurso. Manhas para transformar uma simples frase num enorme texto em que uma única imagem desvalorizaria milhões dessas palavras, e em que o superficial seria realmente desfocado (advérbio que não se coíbe de apontar a verdadeira realidade?)
Comentar o adjectivo é atribuir-lhe graus de importância, é descrever mais concretamente determinado substantivo, revalorizá-lo e de certa maneira focar determinada característica em detrimento de outras. Desta maneira muitos escritores formam um estilo, em que para exibirem uma só ideia utilizam várias expressões e caracterizações. Tal como com as metáforas e analogias, de uma determinada observação se constroem realidades paralelas na mesma escala para descrever esse fenómeno. Ao fim ao cabo, complicar o que simples não é tão evidente ou no caso da prosa, não é tão belo.
Um estilo particularmente característico da escrita insana é a que mistura substantivos com adjectivos que no mundo real e racional não têm qualquer correlação. O significado remete-se então para o simbolismo das duas partes que assim integradas transmitem uma terceira ideia alternativa, que não tem necessariamente que ver com as duas primeiras.
Ao atribuir significado a algo que no mundo real não o tem ou é despropositado, coloco-me no patamar dos que alteram a realidade para construir o meu próprio mundo. Isto, no papel, sem qualquer importância sem ser a estética para mim e para quem a partilhar. Mas uma poderosa arma de propaganda, inventada talvez por Goebbels, Ministro da Propaganda da Alemanha Nazi, e reproduzida posteriormente pelas potências vencedoras da II Guerra, e que invade os neurónios dos muito mais expostos cidadãos do mundo da era da comunicação de massas.
A verdade e a procura pela verdade pode ser feita de forma “mentirosa”. Pode ser vendida pelo mercado do espectáculo, pode ser difundida no mundo dos media, posso ser investigada nas pilhas de papéis que transbordam os arquivos e bibliotecas, pode ser teorizada em livros e teses nas universidades, pode ser observada por cidadãos independentes ou como alguém lhe chamaria, sociedade civil…mas uma verdade absoluta, única, aceite por todos nem o mais totalitário dos regimes políticos, nem o mais severo dos deuses consegue impor na consciência humana.
A loucura pode ser identificada com os seus autores, consegue funcionar como álibi nos tribunais, pode igualmente ser difundida pelo mundo do espectáculo, pode ser teorizada com manifestos dementes que podem ter tanta adesão quanto o valor simbólico que representam, e é difundida a milhares de km/hora na sociedade da informação…
Estas conclusões de tão evidentes que são até podem ser apelidadas de loucas, ou pelo contrário, se fugirem à racionalidade vigente têm o mesmo destino. Ao fim ao cabo, a loucura é normal, talvez não seja saudável mas também já está evidente que a racionalidade nem sempre traz consequências sãs.
Debitar ideias mortas à nascença, abortos de sinceridade afogada pela pressão da genialidade, numera-me entre os algarismos que nascem, ficam doidos e reconhecem-no antes que alguém lhes aponte o caminho do hospital, onde a verdade é reconstituída e o prazer de distinguir a imensidão das cópias plagiadas na essência da realidade e a fuga ao sentido natural num espectáculo parado de alteração mental (que) conduz à insanidade preguiçosamente (d)escrita.
1 Comments:
Queria só dizer que ainda ninguem disse nada
Enviar um comentário
<< Home