terça-feira, outubro 02, 2007

Fuga irreal de um ser confusamente esclarecido

- Apetece-me perder tempo a não escrever nada de jeito. Não que tenha muito tempo para gastar ou muitas ideias para dissertar, mas apenas para desabafar, divagar e entrar na (perigosa) dimensão da ideia. Sair do mundano, fugir às regras, institucionalizar a minha revolução e aí ser inconstitucional...irreal claro!

- Fui constantemente examinado para ter uma nota, para que agora tivesse notas! Conclui esse processo, a nota não foi lá grande coisa e as notas não são agora nenhumas. Mas só depois da conclusão entrei na sociedade pós-industrializada de serviços, comecei a servi-la, a alienar e deixar de controlar o meu tempo. E afinal entrei no mercado como mão de obra barata e não especializada. A cruz é ter gasto dinheiro a quem cá me pôs. Os espinhos são a consciência que conhecia esta predestinação. É só uma perspectiva...este problema afecta muitos e nem todos se martirizam, mas esta é uma fuga irreal...

- Pensar em pessoas como mão-de-obra, como peças prontamente substituíveis de uma máquina imparável embora com condutor invisível...é a aceitável consequência do contrato social com que concordamos ao nascer. Já terá sido melhor? Em alguma parte do planeta? Oh, terra irreal..

- A interacção dos meus eus (eu filho, eu irmão, eu sobrinho, eu tio, eu amigo, eu vizinho, eu consumidor, eu servidor, eu eleitor...) vai alterando o eu eu que a cada dia vai sendo diferente (novas esperanças, novas desilusões), restando uma base que se formou de infância e que se vai afirmando até ao estático e vegetativo estado sóbrio de maioridade efectiva. Será o eu eu real?

- O meu actual estado de espírito faz-me ser assim. E este ser não é presente, pois o futuro está sempre a chegar e vão-se confundindo. Estou sempre a ser eu da mesma maneira de sempre, o sempre chega com o futuro como "o absoluto é a antiguidade do para sempre". Realidade absoluta e este eu para sempre?

-Interromper! Mudar de fazer, ter, agir. O ser continua a ser. É-o diferente nesse momento, mas o antes está sempre no ser. Mudança total! O ser é um ser diferente, num momento diferente, deixou de ser quem era para ser outro ser....Realmente renascer?

- Admissão de ignorância (também eu não sei o que sei). Quanto mais tempo perco a debruçar-me sobre algo, mais complico esse algo, mais complexo fica o seu entendimento, mais elaborado fica o mesmo, mesmo a ser o mesmo algo. Se aceitar a primeira impressão que tenho de algo, fica sempre assim e pronto, esse algo é sempre o mesmo.

- Esgotar o entendimento/conhecimento de um objecto é encará-lo em todos os sentidos, em todas as suas formas e de todas as maneiras. É reduzi-lo à condição de objecto entendido e conhecido. Então eu mesmo não me esgoto.

- Tenho muitos espíritos e não conheço todas as minhas bases. Será que esse processo estará perto da conclusão? O da construção de bases, pois o do seu reconhecimento creio que será eterno. Tal como estamos sempre a aprender, estamos sempre a ser avaliados, nem que seja pelo Grande Olho da nossa consciência. Sou mais um ser que estou a ser avaliado para ser o mesmo ser para sempre.

- Não pensando em ser, vou seguindo o caminho do conhecer. Novas primeiras impressões e muitos novos vocábulos para saber, dizer e saber dizer. E sem conhecer o ser...

-(rip)Estrada perdida e já atravessada, encaras-me quando não o quero, enfrentas-me quando não te quero ver. Levas-me para o abismo conhecido, empurras-me e não o posso parar, senão caio antes de lá chegar.

- Gostava de ter um Império e de ser um Imperador. Construir uma rede de dependências à minha volta, sentir que me temem e dominar tudo o que existe. Controlar o movimento, acção e o pensamento. Esse Império mora em mim, mas ainda não eu o Imperador.

- Gosto de quem preciso, de quem me faz falta. Preciso de quem gostar, faz-me falta gostar de alguém. Mais do que isso, preciso de saber o que me faz falta, para saber de quem gostar. Gosto de saber que faço falta a alguém e é desse alguém que vou gostar. Equilíbrio interesseiro, que quando não o é, é desequilíbrio.

- Tenho necessidades constantes de confrontar o material com o espiritual. E não falo assim, só penso nisso. Quando não penso nisso estou a fazer, a materializar a minha existência. Quando penso nisso estou a pensar a minha existência. Sonho real e acordado.

- Inventei-me diferente: agora tenho uma consciência estável, uma consistência cognitiva que me permite associar emoção e razão. Quando existirem dissonâncias já sei como devo agir: invento-me de novo!

- Já quase que me esgotei só de tentar conhecer o meu ser, de renascer material a partir do espiritual. O melhor é voltar a ser o meu ser, a ter pouco tempo para perder, a não pensar no que ser e a voltar a ser avaliado no presente caminho sem impérios destinado à escravatura do meu ser não interrompido

1 Comments:

Blogger espinalMedula said...

Passei por aqui. Apetece-me ler este texto numa 5ª feira. Muito confesso.

5:37 da tarde  

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