domingo, junho 05, 2005

O futuro das saudades: subsistência mental

É só ler algo interessado e fico imediatamente com vontade de escrever. Não de reproduzir, mas de inventar, de combinar a minha ignorância com a minha genialidade. Ler ilumina, faz pensar, retira-nos do espaço físico, mas quando somos obrigados e pressionados perdemos a motivação. Eu gosto de leitura livre e para isso há que compatibilizar espírito de abertura do leitor e acessabilidade cognitiva do que é lido.
Lembro-me de algo entre as bases filosóficas que me escaparam de um certo tipo de conhecimento que refere que quando nascemos já sabemos tudo, ao que se segue uma amnésia total que nos encaminha para o processo que é toda a nossa vida : sempre a aprender, ou melhor, a relembrar o que já sabemos.
Quando estou a ler interessado penso que estou apenas a relembrar-me de evidências que entretanto esqueci. O problema é que esse processo não tem sido constante devido ao que costumo de apelidar de falta de "consistência cognitiva".
Culpo o ambiente de tudo: se sozinho não subsistiria, envolvido com todos responsabilizo-os pela minha má subsistência. Se no meu "quadro mental" não encontro a estabilidade necessária considero que tal se deve ao conjunto de condições externas que podem afectar a vida de um organismo.
Quando acordo todos os dias o meu "quadro mental" surge enublado pelas incertezas relativas à inevitabilidade da interacção com as condições externas fundamentais para a minha subsistência. A caminho da independência há que ir garantindo a subsistência -actual e futura- , o que se mostra suficiente para formatar o meu "quadro mental" de tal forma que a independência não se afigura mais do que a anexação da minha vontade por parte de "todos".
Resta referir que se não lesse, não escreveria, nada culpabilizava, não me procurava inocentar do crime de existir, não construiria qualquer "quadro mental" (mesmo incompleto ou intermitente) e restar-me-ia sentir, aceitar, experimentar e nunca relembrar.